quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Relatos dos/as educandos/as do Colégio Municipal

Estes são os relatos sobre TRABALHO que os educandos e educandas da turma de EJA do Colégio Municipal de Indaial construíram durante as aulas de informática com o auxílio dos seus educadores. Eles nos fazem refletir sobre as condições de trabalho, a rotina, o estresse, a pressão, os relacionamentos nos locais de trabalho, o cansaço e as lesões por esforços repetitivos a que estão expostos os trabalhadores e trabalhadoras desta turma. É ler e sentir!
Jonatan
Oi, eu sou o Jonathan Alencar de Souza e o meu dia de trabalho é chato.
Eu só me estresso com os outros porque eu quero ganhar a conta mas o encarregado não quer me dar!
Vou trabalhar todos os dias sem vontade. Até têm alguns setores que são bons de trabalhar, mas...
Eu acordo todos os dias às 5:00h, paro às 9:15h para o café e recomeço às 9:45h. Eu chego em casa às 14:20h .
Meus dias são assim: do trabalho para a escola. Eu faço o EJA - Educação de Jovens e Adultos -porque eu não quis estudar quando podia. Agora estudo e trabalho todos os dias. Quando vou trabalhar, escuto que existem pessoas que gostam de trabalhar lá, eu até entendo que emprego não é fácil de achar, mas lá eu não gosto de trabalhar, não! Vou achar outro emprego em outro lugar, como estamparia, pra ver se me dou melhor na vida!
Gislaine - O stress do trabalho
Segunda-feira...começo o dia com a cabeça parecendo que vai explodir de tanta dor! É a maldita enxaqueca, segundo o que o médico falou.
A produção é a principal fala do dia-dia. Acho que mais alguns dias, ao invés falar em produção vamos falar em depressão!
Calada o tempo todo, lá estou eu. Poderia estar de férias agora, mas como tenho que trabalhar no final do ano, preferi deixar as férias para dezembro.
Aqueles que dizem ser colegas são uns chatos. Falam mal uns dos outros e sempre estão grudados. Já eu não consigo ser assim. É por isso que choro muito, sou nervosa, guardo a maioria das coisas para mim. Por exemplo: se eu discutir com uma pessoa no trabalho, como já aconteceu, aquela raiva no momento não sai, mas fica difícil olhar e falar com aquela pessoa com a mesma amizade de sempre.
O encarregado é um excelente profissional. Tem me tratado muito bem. É um vai e vem, uma correria! O horário do café então, é uma merda! Não se tem tempo nem de esfriar a cabeça e já se tem que voltar ao trabalho.
As pessoas deveriam ser unidas e sinceras umas com as outras. A maioria dos meus colegas de trabalho riam pra mim...conversavam como se fossem meus colegas, mas eu sei que eles não estavam sendo verdadeiros e tudo isso me estressa muito.
É aí que eu me sinto sozinha... e a hora não passa...
Felipe - Meu dia de trabalho!
Acordo às 4:30h da manhã, troco de roupa, tomo um café, como alguma coisa, escovo os dentes e vou trabalhar. Não posso demorar muito pois começo às 5:00h.
Gosto do que faço, mas nem sempre corre tudo bem. Têm dias que é melhor nem sair da cama, que dá tudo errado.
Às 9:15h paramos pro café. Muitas vezes tenho vontade de fugir, mas acabo ficando. Às 9:45h tudo volta ao normal. Trabalho até às 14:18h. Saio do trabalho bem cansado e volto pra casa para descansar, pois hoje é só segunda-feira!

Douglas - Um dia de trabalho
Hoje foi um dia puxado para mim. Eu acordei às 4:00h e isso para mim é muito ruim. Eu acho que o trabalhador não deveria acordar este horário.
Na firma que eu trabalho as pessoas estão muito revoltadas com o PPR e o salário, que é muito pouco para sustentar uma família com três pessoas.
O meu serviço envolve produção e por isso hoje estou muito casado. Os meus supervisores querem muita produção. Isso me deixa com raiva.
Eu adoro quando chega 1:30h, eu passo o meu crachá e vou para casa.
Arlinda - História do meu segundo e último emprego
Meu nome é Arlinda. Aos 34 anos comecei a trabalhar com carteira assinada. Comecei em uma confeitaria. Trabalhei de 1986 a 1991. Eu sempre trabalhei na roça desde criança, mas de carteira assinada só aos 34 anos. Trabalhei três meses como ajudante geral, depois passei a ajudante de salgadeira. Aprendi a fazer muito bem os salgadinhos, por isso passei a ser salgadeira profissional. Comecei a ganhar mais e trabalhar muito. Eu trabalhava 12 horas por dia nos finais de semana e até 15 horas durante a semana. Trabalhava de segunda a segunda e descansava nas terças-feiras. No final de semana, muitas vezes tinha que dobrar para dar conta das encomendas de salgadinhos. Dois anos depois comecei a sentir dores nos braços e principalmente no cotovelo direito. Meus ombros doíam muito. Eu ia ao médico e ele me dava 15 dias de atestado. Ficava em casa, melhorava, voltava ao trabalho e dias depois ficava mal outra vez. Trabalhei assim cinco anos e o que ganhei foi uma cirurgia nos dois ombros e nos dois punhos e muitas dores na coluna. Hoje tenho 56 anos e tenho dificuldade até para pentear os cabelos. Não consigo mais fazer massa de pão nem ariar minhas panelas, que eu gosto de ver brilhando, mas não tenho força para ariar. Eu me sinto quase inútil, mal dou conta dos meus afazeres domésticos, mas fazer o que? É a vida!
Tiago - Meu Dia -
Hoje comecei o meu dia mal, com muito sono. Dormi poucas horas. Acordei com frio, olhei para fora e estava chuviscando, não deu vontade alguma de ir trabalhar!
Lavei o rosto, tomei um café preto para passar o sono e saí para mais um dia de combate.
Cheguei no trabalho louco para chegar a hora de ir embora.
Elizandra - Minha rotina de vida
No começo, quando comecei a trabalhar, tudo era tão bom! Até tinham algumas coisas más, mas enfim, passava.
Depois começaram os esporros, a pressão, o tédio. Chegava no local de trabalho com o coração na mão e com medo de me incomodar. Já não era a mesma coisa, aquilo havia mudado. Eu olhava o pessoal passando na rua, todos pareciam felizes. Olhava para o relógio e as horas não passavam, eu pensava:
- Poxa! A hora não vai passar?
Passaram alguns dias e me obriguei a pedir a conta porque já havia me estressado o bastante. Acho que não é através de pressão que o trabalho irá melhorar.

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